Património

Vaso de Tavira

LocalTavira / Tavira
OrigemTavira
Entidade TitularMuseu Municipal de Tavira (BNU-96-12-4)
DesignaçãoVaso de Tavira
CronologiaFinais séc. XI – inícios séc. XII
Dimensões36 cm altura; 42 cm diâmetro
DescriçãoVaso de cerâmica em cozedura oxidante, fabricado ao torno e modelado. Recolhido nos trabalhos arqueológicos levados a cabo por Manuel Maia e Maria Maia junto à muralha da cidade. Trata-se de um recipiente de barro vermelho pintado com engobe claro, de perfil trococónico invertido, com paredes levemente inclinadas para o exterior que engrossam no topo, formando um canal invisível para a passagem de água. A água era introduzida numa espécie de gargalo-funil que se destaca do conjunto, circulava no bordo e era expelida para o exterior através de uma série de figuras zoomórficas erguidas sobre o bordo. Originalmente, seriam catorze figuras, mas apenas restam onze: dois cavaleiros armados, um besteiro apeado, uma mulher a cavalo, dois músicos (integrariam um quarteto, actualmente incompleto), um bovídeo, uma gazela (ou uma cabra); um camelo, um leão (ou um carneiro), uma tartaruga e um bando de pombas que pousa no gargalo-funil. Todas as figuras apresentam traços rápidos de engobe branco aplicado a pincel que realçam os pormenores. A face externa do vaso é decorada com motivos a branco e dividida em quatro faixas paralelas: a superior constituída por triglifos e métopas; as duas faixas centrais com motivos fitomórficos; a inferior com representações esquemáticas de peixes. Segundo Maia, esta seria uma peça fabricada numa oficina local.A sua função não se encontra bem definida. Torres elucida como a iconografia aponta para uma peça com fins cerimoniais, possivelmente ligada ao matrimónio. A mulher a cavalo, ladeada por dois cavaleiros, representaria a noiva, enquanto que um dos cavaleiros, que empunha uma lança ao ombro, simbolizaria o noivo no regresso de uma operação simbólica de rapto da futura mulher, acompanhado por companheiros armados e por músicos. Sendo assim, as figuras do vaso representariam a cerimónia de casamento. Segundo Torres, os animais são representações simbólicas de bons augúrios para o casamento: a frugalidade (camelo), a longevidade (tartaruga), a abundância e fecundidade (touro), a gentileza e ternura (gazela), a força e poder (leão) e a fertilidade (pombas), enquanto que os peixes pintados nas paredes do vaso teriam uma simbologia fálica e ligada à fecundidade, ou representariam a prosperidade, de acordo com o uso dado pelo Islão popular ao peixe nos rituais para fazer chover. São conhecidos na região de Valencia vasos com características muito similares usados para plantar de mangericão ou manjerico. O mangericão é, nas civilizações orientais, simbolo da honra e do amor, sendo usada como oferta aos jovens esposos. Porém, o vaso de Tavira não apresenta nenhuma perfuração no fundo, o que inviabilizaria esse uso. Maia aponta também a hipótese do vaso ser uma réplica de uma fonte palaciana ou talvez mesmo um pequeno aquário.
BibliografiaCláudio Torres e Santiago Macias, O legado islâmico em Portugal, Lisboa, Círculo de Leitores, 1998, p. 216; Idem, “Vaso de Tavira", Discover Islamic Art. Place: Museum With No Frontiers, 2014; Manuel Maia e Maria Maia, "Vaso. Cerâmica", Portugal Islâmico. Os últimos sinais do Mediterrâneo. Catálogo de exposição, Lisboa, IPM, MNA, 1998, p. 99; Maria Garcia Pereira Maia, Lendas das Mouras Encantadas de Tavira. Catálogo de esposição, Tavira, Câmara Municipal de Tavira, 1999, pp. 17-20; Idem, "O Vaso de Tavira e o seu contexto", Portugal, Espanha e Marrocos. O Mediterrâneo e o Atlântico. Actas do Colóquio Internacional, Faro, Universidade do Algarve, 2004, pp. 143-166; Maria Maia e Manuel Maia, “Vaso de Tavira”, Tavira Islâmica. Núcleo Islâmico Museu Municipal de Tavira. Catálogo, Tavira, Câmara Municipal de Tavira, 2012, pp. 68-71; Cláudio Torres, "Vaso de Tavira", , Os signos do quotidiano: gestos, marcas e símbolos no Al-Ândalus. Catálogo da exposição, Mértola, Campo Arqueológico de Mértola, 2011, pp. 44-47; Cláudio Torres, O Vaso de Tavira, Mértola, Campo Arqueológico de Mértola, 2004; Maria Maia, “Vaso de Tavira, com decoração coroplástica”, Tavira: Território e Poder, Tavira, Lisboa, Câmara Municipal de Tavira, Museu Nacional de Arqueologia, 2003, p. 300.
Linkshttp://www.discoverislamicart.org/database_item.php?id=object;ISL;pt;Mus01_C;9;pt
http://museumunicipaldetavira.cm-tavira.pt/content/noticias-destaque/%E2%80%9Cvaso-de-tavira%E2%80%9D-em-exposi%C3%A7%C3%A3o-no-museu-do-louvre




Categoria(s)Arqueologia Utensílios
ComentariosCréditos imagem: Museu Municipal de Tavira
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